sábado, 31 de maio de 2008

...com os pescadores, lutar, lutar...

Independentemente dos exageros que cometam e da confusão que façam em relação ao direito à greve, eu estou com os Pescadores Portugueses.
Se há profissão dura e arriscada é precisamente a de pescador (a que acrescento os mineiros).
Há sectores da nossa economia em especial perigo e debilidade, sobretudo os do sector primário, que apesar de não estar na moda e não ligar com fatos azuis e gravatas às pintinhas é essencial ao desenvolvimento sustentável.
Para a actividade da pesca deveria haver uma protecção fiscal especial, cujos efeitos na despesa poderiam ser atenuados no combate aos especuladores que fazem com que um peixe comprado a um euro na lota seja vendido a 10 nos mercados e a 15 nos restaurantes.
Nestes dias de greve de Pescadores…não comam peixe. É bem mais eficaz e tem muito mais sentido do que boicotes a Galp’s e quejandas.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

...sugestão de leitura para o fim de semana...




...da economia e do que para o que serve...

Nesta campanha eleitoral interna do PSD, independentemente do mérito e propósitos de cada um, repetiu-se o erro que há anos lavra no País, expresso nas palavras dos políticos, nas manifestações partidárias, na comunicação social e – porque não poderia deixar de ser – na cabeça da maior parte das pessoas. Esse erro é, na minha opinião, a hiperbolização da “Economia” enquanto causa e consequência em relação ao demais, nomeadamente a hiperbolização da “Economia” em relação à “Política”.
A Economia é, evidentemente, uma ciência importantíssima, mas é uma ciência primordialmente experimental. A Economia é, antes de tudo o mais e como fundamento da sua própria necessidade, um instrumento ao serviço de uma outra ciência, mais importante, mais complexa e mais imprescindível à Humanidade, que é a Ciência Política.
Sendo absolutamente claro que vivemos uma crise – uma gravíssima crise – económica, é também já mais do que óbvio que a sua resolução não tem resposta no campo económico mas sim no campo político. Aliás uma das principais razões, mais uma vez na minha opinião, da presente crise económica deriva, directamente, do alheamento de um pensamento político consistente na forma de encarar o mercado.
A resolução da crise passa pelo plano político, sendo necessário elaborar uma estratégia política adequada às necessidades da sociedade, mesmo que isso signifique alterar o paradigma económico vigente. Essa alteração de paradigma obriga, naturalmente à reflexão e ao re-perspectivar a sociedade e o seu funcionamento e aí caímos, inequivocamente no plano das “Ideias” e da produção ideológica.
O debate interno do PSD, bem assim como o restante debate nos demais partidos e nos órgãos de soberania, é exclusivamente económico, apenas roçando, aqui e ali, o plano das “Ideias” (neo-liberalismo, social-democracia, socialismo, etc, etc) mas apenas no âmbito da retórica e para falar de economia. É preciso fazer o contrário, é preciso recentrar na política e daí partir para a sua expressão económica.
A retórica nada resolve, muito menos uma retórica que serve apenas para fazer “cócegas intelectuais” num paradigma económico falhado.
O que é preciso é repescar a Política, debater e confrontar “Ideias” para que se construa uma, que após ter sido discutida e – evidentemente – sufragada se muna de todos os instrumentos técnicos e científicos, como por exemplo a ciência económica”, e se concretize.

...have a nice day...

Meravigliosa Creatura

Gianna Nannini

Composição: Gianna Nannini

Molti mari e fiumi
attraverserò,
dentro la tua terra
mi ritroverai.
Turbini e tempeste
io cavalcerò,
volerò tra i fulmini
per averti.
Meravigliosa creatura,
sei sola al mondo,
meravigliosa paura
di averti accanto,
occhi di sole
bruciano in mezzo al cuore
amo la vita meravigliosa.
Luce dei miei occhi,
brilla su di me,
voglio mille lune
per accarezzarti.
Pendo dai tuoi sogni,
veglio su di te.
Non svegliarti, non svegliarti ancora.

Meravigliosa creatura,
sei sola al mondo,
meravigliosa paura
di averti accanto.
Occhi di sole,
mi tremano le parole,
amo la vita meravigliosa.

Meravigliosa creatura,
un bacio lento,
meravigliosa paura
di averti accanto.
All’improvviso
tu scendi nel paradiso.
muoio d'amore meraviglioso

AQUI

My Way

Frank Sinatra

Composição: Paul Anka / Claude François / Jacques Revaux

And now the end is near
And so I face the final curtain
My friend, I'll say it clear
I'll state my case of which I'm certain

I've lived a life that's full
I traveled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

Regrets, I've had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption

I've planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way

Yes there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out

I faced it all and I stood tall
And did it my way

I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill, my share of losing
And now as tears subside
I find it all so amusing

To think I did all that
And may I say, not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way

For what is a man, what has he got?
If not himself, than he has naugth
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels

The record shows, I took the blows
And did it my way


AQUI

quinta-feira, 29 de maio de 2008

...uma confusão do caraças....











Um País em que o sistema de Educação secularmente falha, cometendo erros de palmatória, desde aquele muito antigo do tempo do Senhor D. João III que se traduziu, aquando da reforma da Universidade, em se ter substituído a velhinha “Escolástica” não pelas novas correntes de conhecimento trazidas pelo movimento das Descobertas mas por uma nova e recauchutada “escolásticazinha”, até ao contemporâneo absurdo de se confundir sucesso escolar com passagem de ano/não abandono da escola com aquisição de conhecimentos, é um País que sistematicamente se confunde.
Confundiu-se com o advento da Democracia, julgando que a mesma, de per si, significaria dignidade, prosperidade, igualdade de oportunidades e verdadeira cidadania para o Povo.
Confundiu-se com a adesão à ex-CEE, actual UE, julgando que desse facto se transformaria num País rico.
A verdade dos factos é que o advento da Democracia a única coisa que fez foi terminar com uma ditadura de cariz política, desenquadrar os bufos, acabar com a guerra colonial, dar por findo o Império, coisa muita é certo mas não o bastante, nem nada que se lhe pareça.
A verdade dos factos é que a adesão à “Europa” fez de nós mais frágeis, estourou com o equilíbrio dos sectores económicos – somos hoje o paraíso de terciário, e do terciário fraquinho – e aumentou gravemente as assimetrias sociais.
Portugal, democrático e “europeu” é hoje um País onde os pobres se multiplicam sendo um País crescentemente pobre, um País em que os cidadãos são uma raridade, em que a ignorância prevalece e o desalento predomina. Um País que vive numa verdadeira ditadura económica, fiscal e partidocrática.
Portugal, Estado-Nação confundido e enganado, esqueceu-se do complemento sine qua non da Liberdade: conhecimento, responsabilidade e disciplina.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

...Tu quoque, Brutus, fili mi?!...


A propósito DISTO lembrei-me de Júlio César. Caius Jullius Caesar.


Um Homem da História.


Guerreiro temerário. Estadista reformador. Demolidor de privilégios.
Assassinado pela inveja e pela mesquinhez dos fortes fracos afrontados.
O seu corpo tombou, esvaindo-se em sangue, sobre o lajedo do Senado, vinte e três vezes rasgado pelas lâminas, que por serem tantas escondiam os covardes que as brandiram.

...os psd's em debate na sic...

Mais um debate entre os candidatos à liderança do PSD, desta vez na SIC.

Parabéns à moderadora, Clara de Sousa, que soube desempenhar muito bem o seu papel: sóbria, objectiva e disciplinadora sem ser interventora.

Manuela Ferreira Leite: mais uma vez nada de novo. Percebe-se que está genuinamente a querer prestar um serviço ao seu partido mas não entusiasma nem se entusiasma.

Patinha Antão: insuportavelmente vaidoso e desta vez até grosseiro. A forma como actua no palco mediático abafa o que tem para dizer, e em algumas das suas ideias até se reconhece mérito.

Pedro Santana Lopes: muito melhor que no debate da TVI. Mais solto e objectivado. É um verdadeiro “peixão” na água da militância e tem o dom de quase fazer esquecer o desastre que foi a sua governação. É o único que tem coração para falar ao coração dos militantes sociais-democratas. Funcionará se a razão não for chamada à colação no momento do voto.

Pedro Passos Coelho: Menos subordinado a Manuela Ferreira Leite, mas pouco alegre para quem se assume como o futuro. Demasiado sisudo, não percebendo que a sisudez não significa, necessariamente, maturidade. Continua apertado no fato composto por um casaco social-democrata e umas calças neoliberais (ou vice-versa). Tem a vantagem de não poder ser associado a um passado recente…veremos se chega.

terça-feira, 27 de maio de 2008

...patética patetice...

Não receeis…não vos quero tirar nada. Nem um dos vossos milhões, nem sequer um quilo do vosso ouro.
Também não pretendo os vossos casacos de pele nem nenhum dos vossos jipes e iates.
Podeis ficar com a quinta, o monte e com o apartamento de Paris, a “penthouse” de Nova Iorque e a fazenda em Mato Grosso.
Não receeis mesmo nada porque, repito, não vos quero tirar nada, bem pelo contrário…pretendo dar-vos uma coisa e emprestar-vos outra: quero oferecer-vos uma molécula de decência e emprestar-vos, por 24 horas, o estômago de um idoso pensionista.
Estou absolutamente convencido que depois de vos dar o que vos quero dar, sereis vós os primeiros a querer dar aos demais o tanto que vos sobra de tudo aquilo que eu, efectivamente, não vos pretendo tirar.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

....sonda phoenix em marte...




A sonda Phoenix amartou bem...primeiras imagens da zona polar marciana...

domingo, 25 de maio de 2008

...obscena...


A não perder o trabalho sobre o Maio de 68 na Obscena (link ao lado)

sábado, 24 de maio de 2008

...das rugas e da alma fossilizada...


...sulcos que formam ondas que espelham o navegar da vida,
que a cartografam num mapa claro e sem mentira,
a cada um corresponde a marca de uma gargalhada despregada
ou de uma dor sentida, reprimida ou partilhada...

quem se envergonha das suas rugas tem vergonha da própria vida.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

...do bando dos quatro en passant...

Manuela Moura Guedes – mal preparada e um estilo “horrível”;

Manuela Ferreira Leite – paternalista, comedida e sem nada de novo a dizer;
Patinha Antão – boa capacidade de expressão prejudicado por uma vaidade quase insuportável;
Pedro Santana Lopes – pouco à vontade, na defensiva e errático;
Pedro Passos Coelho – confundiu educação com subserviência em relação a Manuela Ferreira Leite e sentiu-se a apertado no estranho fato que decidiu vestir – calças sociais-democratas e casaco neo-liberal. Ou muda de calças ou muda de casaco.

Vasco Pulido Valente – “killer” a soldo de Manuela Ferreira Leite. Lamentável e lastimável.

...é tempo de parar o baile...

O caminho mais fácil em Portugal para por “ordem na casa” sempre foi a ditadura. Exemplos não faltam: desde o Senhor D. João II, passando pelo Marquês de Pombal, batendo em João Franco e desembocando no Estado Novo, a ditadura, independentemente das vestes usadas conforme as épocas, sempre trouxe algum remédio à sintomologia do paciente – o País, ou melhor dizendo, a Nação – sem nunca, no entanto, o ter curado e muitas vezes piorando-lhe o estado.

Portugal é um País com Povo mas sem uma massa crítica suficiente de cidadãos. Só é cidadão quem “Conhece”. Só o conhecimento aporta responsabilidade e só a responsabilidade permite a liberdade. Só o conhecimento perspectiva com correcção a importância dos direitos e deveres de cidadania.

Num País onde o sistema básico de qualquer sociedade dita civilizada falha, sistema esse que é a Educação, tudo o mais falha.

O sistema de Educação em Portugal está absolutamente falido e precisa de reformular completamente, reformulação esse que não passa pelas meras reformas. É preciso algo bem mais profundo.

Este falhanço produz ignorância de forma sistemática e em catadupa, ignorância que inquina todos os estratos da sociedade e que nos impede de fazer coisas tão fundamentais como a síntese da nossa contemporaneidade.

São poucas as pessoas com uma visão abrangente de Portugal. Uma visão que englobe o seu passado e o seu presente. Uma visão que consiga perceber quais os verdadeiros e profundos problemas que adoentam a nossa Pátria.

Uma visão que não se deixa excitar por formulações simplistas e por soluções “chapa cinco”.

Não é por acaso que quando a dita “crise” mais se sente começamos logo a ouvir falar de boicotes, lideranças partidárias, greves, de regionalizações e de outras soluções ditas milagrosas para “resolver o problema do País”. O problema do País não se resolve por fórmulas mágicas, algumas sem sentido - nem histórico, nem cultural, nem sequer geográfico -, o problema do País resolvemos nós.

Portugal tem elites. E boas, das melhores que existem no mundo. O problema é que as elites se afastam do cerne da resolução dos problemas. Não se afastam por se sentirem superiores nem por terem mais do que fazer. Afastam-se, sobretudo, por cansaço. Cansaço de aturar a mediocridade, cansaço de conviver sistematicamente com a demagogia, com a ignorância, com a incompetência e com a preguiça.

A grande mole da população vive sem saber porquê e para onde, os demais vivem, convivem e sobrevivem no interior dos partidos de forma arrogante, não admitindo que não sabem e nem permitem a quem sabe aconselhar.

Isto acontece porque é o mais fácil. É sempre mais fácil o estúpido ao acertado e avisado. É sempre mais fácil navegar na conjuntura sem olhar para dentro da estrutura.

O que precisamos é de Causas. Causas sérias, difíceis mas arregimentadoras. Precisamos de falar e de ouvir a verdade, precisamos de sacrifício válido de todos e não sacrifício em vão de uma crescente maioria de desprotegidos. Portugal não se resolve pelo neo-rotativismo de bloco central que este regime consagrou, que traduz um perigoso simulacro de democracia, desmentida por tudo e também pela forma como a riqueza é distribuída. Na minha opinião estamos a precisar da reformulação do próprio regime. É necessária uma nova forma de organização política, jurídica e económica de cariz verdadeiramente democrática que faça cidadãos e não escravos da ignorância e da pobreza. É tempo de terminar com a partidocracia, tornar os partidos políticos parceiros e não agentes únicos. É tempo de defenestrar a tralha marxista-leninista e de congelar a turba neo-liberal. É tempo de perceber que o País precisa de semear o pão que come, pescar o peixe que come e de fabricar os parafusos que precisa para vender nas lojas que tem abertas. É tempo de “alto e pára o baile” .

É evidente que esta ruptura vai doer – vai doer e de que maneira. É evidente que esta ruptura vai demorar a fazer efeitos, mas tudo é preferível a isto que temos que é uma vergonha. A Nação tem esse dever para o País que já tem 865 anos.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

...sexo, sexo e sexo...

“Portugal foi hoje apontado em Bruxelas como o Estado-membro com maior disparidade na repartição dos rendimentos, ultrapassando mesmo os Estados Unidos nos indicadores de desigualdade. O Relatório Sobre a Situação Social na União Europeia (UE) em 2007 conclui, no entanto, que os rendimentos se repartem mais uniformemente nos Estados-membros do que nos Estados Unidos, à excepção de Portugal.O relatório é o principal instrumento que a Comissão Europeia utiliza para acompanhar as evoluções sociais nos diferentes países europeus. Os indicadores de distribuição dos rendimentos mostram que os países mais igualitários na distribuição dos rendimentos são os nórdicos, nomeadamente a Suécia e Dinamarca."Portugal distingue-se como sendo o país onde a repartição é a mais desigual", salienta o documento que revela não haver qualquer correlação entre a igualdade de rendimentos e o nível de resultados económicos.Contudo, se forem comparados os coeficientes de igualdade de rendimentos dos Estados-membros com o respectivo PIB (Produto Interno Bruto) por habitante constata-se que os países como um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários. (LUSA)”

Portugal destruiu deliberadamente o seu sector primário e o seu sector secundário, sendo hoje o paraíso do terciário de qualquer multinacional que se preze.
Portugal engordou o Estado à custa dos deserdados dos sectores que destruiu e fez desse mesmo Estado um gigante débil e permanentemente esfomeado, incapaz de fazer bem o que quer que seja, especialmente nas áreas em que deveria fazer muitíssimo bem, independentemente do dinheiro que esbanja – veja-se o que se passa com a Educação, a Saúde, Segurança e Justiça.
A “Educação” vive sob o paradigma do sucesso não medido pela qualidade de conhecimentos adquiridos mas sim pela taxa de abandono e de aprovações, produzindo ignorantes diplomados em massa, pejando o sistema de ensino de professores dessa massa, num ciclo vicioso imparável.
A “Saúde” é um labirinto de desperdício de meios, de incúria e maus tratos, em que o receber bons e atempados cuidados de saúde no SNS é mais improvável do que ganhar o Totoloto.
A “Justiça” é um mito, afogada em burocracia, incompetência e arrogância.
A “Segurança” é um descalabro crescente, com as polícias em guerras umas com as outras, com meios insuficientes e impreparadas quer para o combate do crime urbano quer para o combate do crime “de colarinho branco”.
O Estado que Portugal criou deu rédeas largas a um neoliberalismo bacoco e parolo, protagonizado por pseudo-empresários socialmente inconscientes, fazendo do nosso minúsculo mercado um paradigma do capitalismo selvagem.
Apesar de ter feito Abril, Portugal é refém de um bloco central de interesses, corrupto, imoral, incompetente, boçal e ignorante que inquina e gangrena paulatinamente a sociedade portuguesa e que, a muito breve trecho, condenará a maioria à indigência e transformará uma minoria em "nababos".
Portugal sodomiza-se todos os dias que passam.

...do meu baú...

...expo 98, há dez anos em lisboa...


Há dez anos inaugurou-se em Lisboa a Expo 98. Para além de todas as polémicas fica-me a memória de um momento muito especial, em que houve um bom País e um bom Povo.
Poucas vezes me senti tão bem comigo e com o mundo como naqueles dias da Expo. Para mim, só por isso, valeu a pena. E por Lisboa também.

domingo, 18 de maio de 2008

...my secret life, leonard cohen...


A propósito da canção “My secret life” de Leonard Cohen que me acompanhou ontem a tratar de uma tela que me está a dar bastante trabalho, dei comigo a pensar que todos temos uma vida secreta. Não há ninguém que não a tenha. Uma vida em que vivemos deliberadamente sós, connosco e com as nossas tralhas. É nessa vida secreta que decorre paralelamente à outra, a outra que é visível e partilhável, que nós somos essencialmente.
Para quem acredita num “julgamento final” será sobre os factos dessa vida oculta que o juízo será ditado e não sobre os factos da outra, que nem sempre estão associados e raramente têm correspondência.
É nessa vida dupla, ou melhor dizendo intrínseca, essencial e íntima, que nós guardamos os nossos verdadeiros porquês, as nossas eventuais grandezas e misérias.
Essa vida, que cada um de nós tem, para além da outra, é o único retrato fiel e posteriormente fiável do nosso tempo, modo e circunstâncias. Há quem lhe chame consciência, mas eu acho que nem bem isso, é algo mais amplo, onde a consciência interage mas não esgota.

sábado, 17 de maio de 2008

...o jacaralho...


Um dos meus animais preferidos...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

...do cigarrinho do senhor engenheiro...

O incidente “cigarrinho a bordo” é absolutamente paradigmático enquanto testemunho do lado negro do País que somos.

Um País de bufos (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão);
Um País de autoritarismos arrogantes (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão);
Um País de desculpem lá qualquer coisinha que eu não torno (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão);
Um País de maus jornalistas que se pelam pelo fait divers e descuram o essencial (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão) – o que não teriam escrito se em vez do Sócrates ter fumado no avião, fosse o avião a fumar no Sócrates;
Um País em que há opinião púbica e não opinião pública, em que os “pentelhos” substituem os neurónios (e não vale culpar o feitor de Santa Comba do Dão).

segunda-feira, 12 de maio de 2008

domingo, 11 de maio de 2008

...sobre a queima das fitas...

Nunca gostei da Queima nem das ditas “praxes académicas”, mesmo quando era estudante.
Durante décadas, a melhor maneira de se conhecer realmente o “País real” era na tropa.
O SMO – Serviço Militar Obrigatório – atirou-me com esse “País real” às trombas.
O país da ignorância sobre questões básicas em relação a matérias tão primárias como higiene e hábitos alimentares. O país dos analfabetos, dos brutinhos do monte e dos bairros urbanos.
Acabado que está o SMO, estou absolutamente convencido que basta assistir uma vez a uma “cerimónia” académica, por exemplo o “cortejo”, para percebermos exactamente o lamentável e lastimável estado do Portugal contemporâneo.
Bruto, imbecil, ignorante, indisciplinado, vaidoso, parolo e boçal.

sábado, 10 de maio de 2008

...eu gosto de fado...

Eu gosto de fado. Do fado de Lisboa e do fado de Coimbra.
Gosto do fado que canta e é cantado pelo meu Povo, um fado de faca e alguidar, de ciúmes e bulhas, de traições imperdoáveis e de todas as santas Marias.
Gosto do fado que canta o canto dos meus Poetas. Um fado que nos canta os encantos e desencantos da nossa alma, da alma do meu Povo.
Quando ouço fado, o bom fado da Amália ou do Carlos do Carmo e de tantos outros e outras – e de alguns novos, tão bons – há alguma coisa, que eu não consigo explicar, que me faz sentir que aquele canto é o meu canto, sem qualquer dúvida e sem saber nenhum dos porquês.
É uma espécie de apelo feito entrega imediata, que me faz sombra na calçada de uma viela ou marinheiro na alta gávea de uma nau. Não sei porquê, mas assim é.
O fado é talvez a poção mágica do ser português, é a sonoridade de uma certa forma de estar e ser mundo, inevitável e de que não adianta fugir. Não é melhor nem pior do que as outras, é apenas a nossa.
Por mais globalizados que sejamos, por mais Europa que nos legislem, por mais cosmopolitas que a nós nos faça a vida, por mais que gostemos de coca-cola, somos para o bem e para o mal aquilo que somos, mesmo que disso nos esqueçamos.
Somos um só fado que é o produto de todos os fados escritos e cantados e essa coisa estranha, essa mistura de bruxa maluca é aquilo que somos. Nem mais nem menos.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

...um erro chamado independência de angola...







Eu considero que todos os povos têm direito à sua própria independência, sobretudo quando tal facto representa uma melhoria objectiva e subjectiva das condições de vida e dignidade desses mesmos povos.
Angola, apesar dos seus imensos recursos, nada lucrou com a independência.
Nada!
A sua população não é livre. É escrava da fome e de um poder corrupto.
A independência de Angola serviu uma elite indígena, aliviou a consciência de uma burguesia de esquerda português – a mesma que acha muita piada a Fidel, ao assassino frio que foi o Che e que acha “imensa graça ao Louçã” - contribuiu para a causa da internacionalização bolchevique do que o PCP foi um dos mais importante parceiros e condenou gerações e gerações de angolanos à fome e à mais terrível das misérias, sem falar na hecatombe que provocou nas vidas de milhares e milhares de angolanos portugueses.
Estou-me nas tintas para as chamadas responsabilidades de Portugal. O que verifico é que a independência de Angola foi um erro. Talvez um erro que se seguiu a muitos outros anteriores, mas um erro – um terrível erro – à mesma.

terça-feira, 6 de maio de 2008

...paternas cogitações...


...Não está em causa o amar-te ou o ser amado por ti. Jamais estaria, mesmo que a segunda condição não fosse verdadeira.
O que me levanta dúvidas – não angústias, descansa – é já não saber bem para o que te sirvo.
Enquanto crescias estava claro o meu papel: educar-te, prover-te, dar-te amor e autoridade.
Hoje, que cresceste, que começas a abraçar só a tua própria vida – e é assim que deve ser, e que me conforta quanto à qualidade do papel que desempenhei para ti até hoje – não sei mesmo para o que te sirvo, que é o mesmo que dizer que não sei em que prateleira me pousas e que tipo de necessidade te fará lá ir-me buscar.
Talvez tenhamos que nos reaprender, um perante o outro, cada um de nós em relação a cada uma das nossas vidas.
Sairás de casa, entregue a ti mesma. Por mais que te ame e que te tente proteger estarás mesmo entregue a ti mesma. Serás, na medida do possível, senhora dona do teu caminho. Admito que isso me preocupa, porque sei que não há caminhos fáceis. Nenhum é. Sei que sofrerás e eu já não te poderei distrair da dor que sentirás, como fazia quando eras pequenina. Não é que não o queira fazer e fazê-lo para sempre, mas não é possível.
Enfim, caminhar faz-se caminhando. Tu no início do teu, eu no início do fim do meu, trajectos separados uníveis por mãos.
Mesmo que não saiba bem para o que doravante te servirei, quero sempre servir-te para tudo o quanto em ti descubras que precisas de mim...

segunda-feira, 5 de maio de 2008

...do tango e da missa...




“Muito original uma Missa-Tango, aparentemente paradoxal.” (Tinta Azul a propósito disto)




É realmente um paradoxo aparente.

A missa é um ritual com uma liturgia específica.
A missa cataliza as emoções, sacraliza o sacrifício supremo que é o da própria vida.
A missa assenta num alegado mistério, o mistério da transmutação da matéria.

O tango é, todo ele, um ritual. Um ritual de sedução. Um ritual de aparente domínio, em quem domina é dominado e quem é dominado domina.
O tango é emoção, feita desejo e suor, é a simbiose entre inteligência e a ferocidade, é o ponto com contra-ponto da leveza da dança com o peso do tempo da ara, dos cascos e da seiva.
O tango assenta no mistério que é fatalidade, que é destino e que é desatino.

domingo, 4 de maio de 2008

...dia da Mãe...

É tão permanente a sua presença em mim, que muitas vezes me esqueço que já mudou de lugar.

PS: cada vez mais me convenço que foi esta a estratégia que escolheu para que a humana dor em relação à ausência de quem se quer, não me enchesse do insustentável peso da saudade, abafando a certeza permanente de um incomensurável amor indiscutível, inevitável, permanente e alegre.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

...do ócio...




McCannMcCannMcCannMcCannMcCannMcCannMcCannMcCannMcCannMcCann

Esta telenovela dos McCann já saturou a paciência do mais paciente dos portugueses.
Eu, pessoalmente, já não consigo ouvir a voz de cana rachada do pai McCann nem encarar o ar exotérico da mãe.
Tenho pena é da miúda e do seu trágico destino.
Para salvar a honra do convento, perante tanto enxovalho vindo da pérfida albion, exige-se que, no mínimo – e porque é um facto -, o casalinho seja acusado de negligência e abandono. É que disso não faltam provas.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

...com estas mãos trabalhei neste primeiro de maio...



…mão

Com a mão
afago-te,
bato-te,
aplaudo-te,
condeno-te,
pego-te,
largo-te,
escrevo-te,
pinto-te,
com a mão...
faz o Homem pão.

...do meu baú...


...Bauhaus...sempre...



Manifesto


The ultimate aim of all creative activity is a building! The decoration of buildings was once the noblest function of fine arts, and fine arts were indispensable to great architecture. Today they exist in complacent isolation, and can only be rescued by the conscious co-operation and collaboration of all craftsmen. Architects, painters, and sculptors must once again come to know and comprehend the composite character of a building, both as an entity and in terms of its various parts. Then their work will be filled with that true architectonic spirit which, as "salon art", it has lost.
The old art schools were unable to produce this unity; and how, indeed, should they have done so, since art cannot be taught? Schools must return to the workshop. The world of the pattern-designer and applied artist, consisting only of drawing and painting must become once again a world in which things are built. If the young person who rejoices in creative activity now begins his career as in the older days by learning a craft, then the unproductive "artist" will no longer be condemned to inadequate artistry, for his skills will be preserved for the crafts in which he can achieve great things.
Architects, painters, sculptors, we must all return to crafts! For there is no such thing as "professional art". There is no essential difference between the artist and the craftsman. The artist is an exalted craftsman. By the grace of Heaven and in rare moments of inspiration which transcend the will, art may unconsciously blossom from the labour of his hand, but a base in handicrafts is essential to every artist. It is there that the original source of creativity lies.
Let us therefore create a new guild of craftsmen without the class-distinctions that raise an arrogant barrier between craftsmen and artists! Let us desire, conceive, and create the new building of the future together. It will combine architecture, sculpture, and painting in a single form, and will one day rise towards the heavens from the hands of a million workers as the crystalline symbol of a new and coming faith.

WALTER GROPIUS

Bauhaus Museum AQUI