sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

...estou enjoado...

Eu hoje estou a sentir-me particularmente enjoado com o que andamos a fazer ao País.
É preciso que se saiba que eu sou daqueles que me levanto instintivamente quando ouço os primeiros acordes do Hino Nacional, que respeito profundamente a minha bandeira, que apesar do meu sentido crítico tenho uma enorme paixão pela História de Portugal, que cumpri empenhadamente o meu Serviço Militar (sim...isso tem alguma importância) e que fundamentalmente – apesar de já ter corrido o mundo, ou se calhar por causa disso mesmo – não saberia ser outra coisa que não Português.
Enquanto pai e educador proporcionei uma visão universal e cosmopolita do Mundo mas sempre me preocupei em incutir o amor pela Pátria, o sentido da identidade e o encantamento pelo muito do racionalmente inexplicável que há no percurso de Portugal.
O nosso País não merece o que lhe fazemos. Nós apoucamos Portugal e apoucamos porque nos apoucamos colectiva e individualmente.
Perdemos o sentido do dever e das virtudes de algum sacrifício. Perdemo-nos na mesquinhez dos relacionamentos pequeninos, da aflição do crédito à habitação, embevecemo-nos com a esperteza saloia, com os remendos, confundimos “liberdade” com irresponsabilidade pessoal e social, desprezamos o prazer em conhecer e aprender, deixamos de inventar o “fazer” para passarmos apenas a copiar.
Esta merda de assim ser não é herança, não é fatalidade! Esta merda de assim ser não passa de vício e de preguiça!

...que fdp de País...

Acabaram-se as amêndoas de Portalegre. Os proprietários da fábrica decidiram encerrá-la antes que a ASAE o fizesse.
As amêndoas de Portalegre foram comidas portugueses durante anos e anos e – ao que se saiba – ninguém ficou doente e muito menos morreu por causa disso.
Terminou assim um produto tradicional, uma empresa tradicional e um sabor no palatos dos portugueses.
Em nome de quê?
Será que não é óbvio que algo de profundamente errado se passa no País?
O regozijo pelo facto demonstrado pelo funcionário que exerce as funções de Director da ASAE e a complacência geral revelam bem o grau de alienação mental do Estado e dos Cidadãos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

...simone de oliveira...


Simone de Oliveira comemorou 50 anos de carreira. Acabei de assistir a uma pequena entrevista dela à RTP.
Apesar de não ser uma artista do “meu tempo” sempre gostei dela. Emana uma força extraordinária e é inquestionavelmente uma “grande Senhora”.
Concentra em si algumas notáveis qualidades: talento, coragem e frontalidade.
É uma daquelas pessoas a quem a passagem do tempo reforçou a dignidade e é também uma grande conhecedora da natureza e da condição humana.
Obrigado Simone.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

...cuba..


Conheço bem Cuba. A Cuba que se esconde sob o manto do turismo e na contracapa do folheto das conquistas revolucionárias.

Conheço a Cuba das sarjetas, dos pedintes doutorados e das putas esfomeadas.

Conheço a Cuba das gentes que sentem como normal a anormalidade dos estádios abjectos.

Conheço a farsa da iconografia do Che, a Senhora de Fátima do Fidel. O Che - que romantismos obstinadamente cegos santificaram -, morto que não fala e que por isso mesmo só abençoa, cala e consente.

Conheço a Cuba-espelho baço dos salafrários de Miami. A Cuba perdida da Máfia, a Cuba espinho na garganta da CIA. A Cuba consequência da imbecilidade ianque.

Conheço a Cuba-palco carunchoso de um velho que quis ser grande e notável à custa do garrote de um povo.

Conheço a Cuba cemitério da Arte Nova, onde pelos buracos no estuque sopram fantasmas inquietos. A Cuba tão cansada como cansada era a cara da Piaff e a voz da Marlene.

A Cuba da festa fácil-engana-fome e distrai do medo.

A Cuba-Cohiba e do rum para médico especialista que remove cataratas mas não devolve a visão.

Conheço a Cuba, velha Berlim do Atlântico.

Cuba fractal.

Cuba, essa parte que contém todo o nosso todo…e tudo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

...dos meus livros...

Uma das contestações que poderei fazer, se a tal coisa for instado, no final da minha vida é que fui – efectivamente fui – um leitor.
Li e leio muito e devo aos livros muito daquilo que sou e também aquilo que não sou.
Comecei cedo a ler, empurrado para o colo da leitura pela minha mãe. Lembro-me que me repetia constantemente: “se gostares de ler jamais te sentirás só”.
Essa afirmação, apesar de não ser inteiramente verdadeira – não há verdades absolutas – ficou a pairar-me no cérebro e até hoje flutua no interior desse meu mecanismo esquisito.
Esquisita é também a minha forma de ser leitor. Eu não respeito os livros. Dou-lhes tratos de polé. Esmifro-os até ao tutano. Dobro-lhes os cantos das páginas, risco-os, sublinho-os, marco-os com dedadas de chocolate derretido, preencho-lhes as costuras com migalhas de pão, enfim, eu para os livros sou um verdadeiro estupor.
Além disso, mais depressa esvazio a carteira a quem me pede dinheiro do que empresto um livro meu, mesmo que o mesmo seja mau e barato. Também não peço emprestado.
Detesto livros emprestados ou requisitados e por causa disso nunca gostei de bibliotecas públicas. Para mim um livro que leia tem que ser meu, até porque não é o primeiro - nem o segundo - que arrumo em pontapé certeiro numa prateleira de estante e não se pode – ou pelo menos não se deve – pontapear livros emprestados (ou requisitados).
A minha biblioteca pessoal é, para qualquer observador, um caos. Para mim não. É uma biblioteca “orgânica”, os livros acompanham as prateleiras e os objectos numa lógica que só a mim pertence, mas também os livros são meus, não é?
Estou convencido que o que livra os meus livros de me servirem de pira funerária é terem a sorte de eu ter herdeira à altura.

...nostalgia...

Ao descer assim, em tropeço constante e descontrolado, num desequilíbrio estatelante, muitas saudades senti da lenta, árdua e penosa subida. Bons tempos.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

sábado, 23 de fevereiro de 2008

...




“A casa tinha-se-lhes enchido de merda. Havia poucos anos que viviam ali mas já empestava a merda das galinhas e dos porcos que criavam no terraço. A casa de banho estava um nojo e dava a impressão que nunca a limpavam. Mas a mim tanto se me dá. Os negros são assim. Cheguei à procura de Hayda, mas só estava Caridad. Falamos dos assuntos do momento: comida, dólares, miséria, fome, Fidel, dos que se vão, dos que ficam, de Miami…De tarde não tinha nada que fazer. Bom, é assim dia após dia. Nunca se faz nada. Tinha cinco pesos no bolso e sentei-me no chão, encostado à porta. Há dias que não bebia nada, sem dinheiro à espera. À espera de quê? De nada. À espera. Aqui toda a gente espera. Um dia de cada vez. Ninguém sabe do que está à espera. Os dias passam. E o cérebro fica embotado. O que é um bem. Ter o cérebro embotado é bom para não pensar. Às vezes penso de mais e entro em desespero. Em tempos fui estudante, fui disciplinado, tive objectivos para amanhã e para o próximo ano, e fui à luta pelo mundo. Depois tudo se transformou em sal e água e vim cair nesta pocilga. Uns têm sarna, outros têm piolhos, ou lêndias. Não há dinheiro, nem comida, nem trabalho, e todos os dias chega mais gente. Não sei de onde surge tanta gente maltrapilha. Vivem como baratas. Dez ou doze num quarto.
Por isso o melhor é não pensar muito e uma pessoa divertir-se. Rum, mulheres, marijuana. Uma rumbazita de vez em quando. O resto é merda e é melhor não remexer nela, que é para não cheirar mal.” GUTIÉRREZ, Pedro Juan, “Trilogia Suja de Havana”.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

...depressão bipolar...

Vou virar as minhas costas à corrente de ar, quero que o vento frio me espete uma lança de gélida nas costelas, que a tosse me invada, que a febre me delire, que a tísica me corroa e de mim, em breve muito breve, reste pó amontoado dentro de um caixote de tábuas.

Quero que as flores se abram em leque com o calor de contente que me sai da alma, que o sol se inveje da certeza que irradio, que os pássaros trinem afinadas odes à alegria e que o mundo inteiro saiba que pelo menos um homem descobriu a felicidade.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

...

Hoje, “Dia dos Namorados”, é um bom dia para lembrar aquele que foi um sábio do amor e do desamor: Luís Vaz de Camões.
Camões, que tantos louvam e tão poucos o lêem.
Há mais Camões para além dos Lusíadas….

Transforma-se o amador na cousa amada
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Eu cantarei de amor tão docemente
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.

...era uma vez...


Numa certa tarde de um mês de Junho, sentado em cima de um muro alto, com as pernas a abanar, fingia que lia "As verdes colinas de África", observando-a de soslaio. Já há dias que aqueles cabelos encaracolados teimavam em chamar-lhe a atenção, distraindo-o de tudo o mais. Ela aproximou-se. Sabendo ele que o tempo, o modo e as circunstâncias em conjugação perfeita são uma raridade, perguntou-lhe, à queima roupa, se já tinha lido aquele livro. A conversa começou facilmente e sei, de fonte fidedigna, que dura há quase um quarto de século.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

...um (des)apontamento (muito grande)

O que se está a tentar fazer em relação ao Mercado do Bolhão é, na minha opinião, um duplo atentado: um atentado contra o património material e contra o património mental.
Se o primeiro é grave – e que se traduz não apenas na descaracterização material mas também na descaracterização funcional -, o segundo é extraordinariamente grave porque revela uma visão da urbe assente na ignorância da sua História e natureza e uma visão social assente no mercantilismo estúpido e num conceito de modernidade parolo e arrogante.
O Bolhão não era apenas um espaço comercial de características cada vez mais raras em Portugal – embora preservadas em toda a Europa. O Bolhão era muito mais do que isso: era a materialização de uma das facetas da alma tripeira. Era um espaço de sons, ruídos, cores e cheiros que o Povo teimava em preservar e que vinham do tempo em que a cidade fazia sentido porque havia campo e o campo fazia sentido porque havia cidade.
O Bolhão era um espaço-cadinho de paixões, de exageros de toda a espécie, de camisas suadas e de vozes enrouquecidas. O Bolhão era o Porto. O Porto com a sua específica nobreza que recusava o garrote da Nobreza, o Porto que comia tripas para que houvesse carne para o que importasse. Era o Porto, aquele Porto que alguns teimam em fazer desaparecer, sem perceberem que sem esse Porto, o Porto não faz qualquer sentido.

...hoje fui aos saldos...


Hoje, numa pequena aberta, fui aos saldos ao Ferreira Borges.

Comprei, a bom preço, algumas relíquias intemporais:


New Orleans, 1960 – CHARLES, W e BERENDT, J
Meu sósia e eu – NIEMEYER, O
Marginálias - GOMEZ, R e NEGREIROS, Almada
Tonio Kröger - MANN, T
O Bojador – ANDRESEN, S M B
Crónicas de Hollywood, FITZGERALD, F S
Memória Dividida – Poesia de antes e depois de Abril
Cartas – LONDON J.
Qualquer dia escreverei sobre a minha biblioteca e sobre a minha doentia relação com ela e com os livros em geral.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Perdiz com uvas


Ingredientes: perdizes 4; vinho branco 2 dl; sal q.b.; pimenta preta q.b.; bacon 100 gr; cebolas médias 2; corintos 40 gr; nozes 40 gr; pinhões 40 gr; cenouras 200 gr; alho francês 200 gr; açafrão em rama q.b.; farinha 200 gr; ovos 2.


Preparação:
Sobre a mesa coloque a farinha e deite um pouco de água que seja suficiente para amassar. Junte 3 colheres de sopa de óleo, amasse tudo muito bem e deixe repousar por duas horas.Estenda a massa sobre um pano e com ajuda das mãos estique para que fique como papel.Leve ao lume um tacho com azeite, cebola picada, alho francês em rodelas finas e cenoura em tiras também muito finas. Junte as frutas secas, o açafrão, o sal e a pimenta preta. Recheie a massa com este preparado enrolando-a sobre si.Pinte com ovo e manteiga derretida. Leve ao forno a cozer durante 15 minutos à temperatura de 200ºC. Depois de limpas as perdizes tempere-as com vinho branco, sal e pimenta. Aloure em óleo quente.Junte as cebolas às rodelas e numa panela de pressão cozinhe durante 15 minutos, depois de levantar fervura.Coloque as perdizes sobre um prato fundo, regue com o molho e à volta coloque os rolinhos de massa estaladiça com legumes.

...pequeno (des)apontamento...

Naquele fim daquela fria tarde de Inverno, em que o vermelho do crepúsculo não se conseguia reflectir na neve encarnada de sangue, tropeçavam nos corpos esventrados dos homens e dos cavalos os que conseguiram furtar-se ao golpe certeiro da foice.
O cheiro quente das vísceras libertadas, misturado com odor acre da pólvora, os gritos dos feridos e os gemidos sem esperança dos moribundos, antecipavam aos crentes pecadores o infernal destino.
Batalha travada, batalha perdida, os estandartes sujos, esfarrapados e a glória para uns perdida e para outros desmascarada.
E a velha puta do regimento que ao chorar embalando o corpo mole e magro do pequeno tambor, chorava de graça em vez da Terra que não o sabe fazer já que todas as lágrimas foram reservadas pelo céu.

...o meu signo chinês...


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

...pequeno (des)apontamento...

Passeando ao longo da margem do rio, pé vagarosamente ante pé, sentindo na face o frio espumoso e cinzento, parando agora e logo de seguida para ver na água que passa o fluir escuro e gordo de uma imenso caudal que já foi gota.

...do meu baú...



domingo, 10 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

...Dirty Sexy Money...


“Dirty Sexy Money” é a série criada e co-produzida por Craig Wright que a TVI exibe às quintas-feiras à noite. Com Donald Sutherkand (Tripp Darling) e Peter Krause (Nick George) nos principais papeis cada episódio torna-se num excelente momento televisivo.
Eu, que até sou muito esquisito em matéria de televisão, gosto muito desta série.

Recomendo-a.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008