Conheço bem Cuba. A Cuba que se esconde sob o manto do turismo e na contracapa do folheto das conquistas revolucionárias.
Conheço a Cuba das sarjetas, dos pedintes doutorados e das putas esfomeadas.
Conheço a Cuba das gentes que sentem como normal a anormalidade dos estádios abjectos.
Conheço a farsa da iconografia do Che, a Senhora de Fátima do Fidel. O Che - que romantismos obstinadamente cegos santificaram -, morto que não fala e que por isso mesmo só abençoa, cala e consente.
Conheço a Cuba-espelho baço dos salafrários de Miami. A Cuba perdida da Máfia, a Cuba espinho na garganta da CIA. A Cuba consequência da imbecilidade ianque.
Conheço a Cuba-palco carunchoso de um velho que quis ser grande e notável à custa do garrote de um povo.
Conheço a Cuba cemitério da Arte Nova, onde pelos buracos no estuque sopram fantasmas inquietos. A Cuba tão cansada como cansada era a cara da Piaff e a voz da Marlene.
A Cuba da festa fácil-engana-fome e distrai do medo.
A Cuba-Cohiba e do rum para médico especialista que remove cataratas mas não devolve a visão.
Conheço a Cuba, velha Berlim do Atlântico.
Cuba fractal.
Cuba, essa parte que contém todo o nosso todo…e tudo.
2 comentários:
É!... Os mortos não falam. Disseram o que tinham a dizer e nem sempre soubemos quais foram os seus últimos desígnios e as suas últimos praguejos.
Por isso, às vezes, questiono-me sobre as circunstâncias enigmáticas da morte de Che Guevara.
Estranha conveniência...
Estranha hora...
Estranho...
[BEIJO]
P.S.: Apesar da seriedade do tema, tenho que dizer - gostei do texto, que queres? É bom!
[Gosto sempre, vendo bem...]
Esqueci-me de acrescentar: a iconografia que acompanha o texto também é digna de reparo.
Um óptimo reparo [para o que parece não ter remédio...].
outro
[BeijO]
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