quarta-feira, 31 de outubro de 2007

...do meu baú...


...


…naufrágio

E tu raio de luz, que tantas opacas paredes minhas trespassaste,
porque assim te foste ou apagaste?
Porque me trouxeste o cinzento
deste solitário e desatinado momento,
em que apesar desta tanta gente me sinto num deserto imenso?
Sou um instinto feito nau fantasma que segue só a rota que sabe certa,
perdido o astrolábio, caído na correnteza,
apagada no firmamento a sua estrela do norte
fazendo da sua enseada, em desespero improvisada, mas inevitavelmente certa
um naufrágio comedido e silencioso chamado morte.

terça-feira, 30 de outubro de 2007


A chamada civilização ocidental, herdeira de uma amalgama aristotélica, judaica e cristã, que foi liderada por vários séculos pela Europa e posteriormente pelos Estados Unidos da América e que encerra em sim mesmo vários postulados, muitos deles contraditórios, em que o capitalismo, o neo-liberalismo, o estado-social, o humanismo, a social-democracia, entre outras correntes, convivem numa dinâmica quase inacaracterizável e em que a apelidada “raça branca”, sobretudo cristã e judaica, vive hoje os seus últimos momentos.

Esse epílogo civilizacional acontece – como sempre aconteceu em relação a todas as civilizações ao longo da História – por culpa da própria civilização ocidental.

As suas contradições, a sua incapacidade de uma interacção coerente com as demais civilizações e a sua incapacidade de criar condições para que os seus membros se reproduzam a um ritmo razoável, fragilizaram-na e permitiram a germinação das sementes da sua própria destruição.

Basta observar com alguma atenção a vida em qualquer mega-aglomerado urbano no chamado mundo ocidental, a emergência de novos potentados com características civilizacionais - que estão paulatinamente a utilizar a corda que a civilização ocidental fabricou para a enforcar – para perceber este cântico do cisne.

Nós, últimos filhos desta civilização, temos que nos adaptar a uma nova realidade, que basicamente muitos denominam de Multiculturalismo, mas que a mim me parece mais um Multicivilizacionismo. A civilização ocidental, desde tempos imemoriais, sempre se relacionou com culturas diferentes, mas em rigor essa relação assentava numa relação de domínio, sobretudo um domínio militar e económico.

Esse domínio já não existe e os próprios interstícios desta civilização estão a ser ocupados crescentemente por pessoas que da mesma só utilizam os instrumentos, mas que matricialmente em quase nada com ela comungam.

Este fim civilizacional não é nenhuma tragédia é apenas uma inevitabilidade.

Este Multicivilazacionismo a que já pertencemos mas que ainda não demos conta disso e das suas implicações - e por isso mesmo mantemos intacta uma arrogância que só nos é prejudicial -, vai obrigar a uma reformulação de princípios e valores e vai ditar a procura inexorável de novos equilíbrios, mas pode ser uma aventura extraordinária a viver pelos nossos descendentes, que cada vez mais serão menos louros, rosadinhos e obesos – porque em regra assim são os mais poderosos entre nós - para serem das muitas cores da Terra. E isso, quanto a mim, é potencialmente bom.

....?


O que é isto?

domingo, 28 de outubro de 2007

...back from Toronto...





























































Acabei de regressar do Canadá, país que não visitava há oito anos.
O Canadá possui uma população de cerca de 32 milhões de habitantes e uma área de 9.984.670 Km2, dos quais 8,62% são de água.
É um “melting pot” de raças e religiões, onde o pioneirismo convive com o mais arrojado dos pós-modernismos.
Terra de emigração onde se torna difícil reconhecer os de origem anglo-saxónica - apesar da sua marcada obesidade e tonalidade rosa – vive tempos mais difíceis, sobretudo devido à sua excessiva dependência comercial dos Estados Unidos da América, que em abono da verdade, diga-se, tudo fazem para dificultar a vida a este país da Commonwealth, onde sua Majestade a Rainha Isabel II é ainda a Chefe de Estado, para enorme desgosto dos habitantes do Quebec (província canadiana francófona, que vai a caminho do seu terceiro referendo sobre a sua eventual independência).
Comparando o Canadá com Portugal, a diferença do custo de vida é abismal: os canadianos têm a gasolina, a carne, o peixe e a roupa, substancialmente mais barata do que nós, além do que o seu nível salarial é incomparavelmente superior.
Por outro lado, do ponto de vista dos cuidados ambientais, Portugal está muitíssimo mais avançado. A maior parte das fábricas canadianas, sobretudo as ligadas à indústria pesada, se operassem em Portugal eram imediatamente encerradas por falta de condições. É bem verdade que eles têm muito mais terra, água e ar para poluir do que nós temos, no entanto…
Ao nível da utilização das novas tecnologias da informação e da comunicação, excepto nos grandes centros urbanos que é semelhante à nossa, o Canadá está bastante atrasado, comparativamente connosco, facto que até espanta.

Toronto é a maior cidade do Canadá, situada na margem norte do Lago Ontário, é capital provincial de Ontário e a capital económica e financeira do país.
Yonge Street é talvez a sua artéria mais longa e trepidante, onde a cultura é algo claramente globalizado, local onde o planeta se intercruza e manifesta artísitica, comercial e sociologicamente.
Sendo um cultor urbano senti-me muito bem a calcorreá-la horas e horas, apesar do frio permanente e da chuva ocasional.
A última fotografia desta série, apesar de pouco nítida, retrata uma quase batalha entre gaivotas pela posse de batatas fritas que eu ia atirando para o ar, até ao momento em que dezenas de pombos, perfeitamente organizados fizeram um voo picado sobre a caixa das ditas batatas, devorando-as num ápice, numa cena perfeitamente hitchcockiana.





quarta-feira, 17 de outubro de 2007

...mais um livro....


«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»
«Na margem sul do Tejo, faleceu recentemente um angolano, antigo membro do MPLA, a quem por alturas do 27 de Maio foi atribuída a tarefa de coveiro. Há quem se lembre de o ouvir contar que fora obrigado a sepultar pessoas vivas. Milhares de famílias de angolanos nunca puderam enterrar os seus mortos.»
«[...] Eram presos e enviados, sem qualquer processo, para campos de concentração. Muitos dos que morreram nem sequer sabiam quem era Nito Alves. E eram muitos os que tinham menos de 18 anos. Entre os detidos encontravam-se, até, soldados que não estavam em Angola no dia 27 de Maio.»«Houve pessoas que foram presas e até mortas, porque eram amigos ou parentes afastados. Pior, quando eram parentes próximos.»«De modo que os soldados entravam nas casas perguntando onde estavam os intelectuais ou os estudantes. E acabaram por matar muitos.»«A chamada Comissão das Lágrimas foi criada pelo Bureau Políticos do MPLA com o objectivo de seleccionar os depoimentos dos presos do 27 de Maio. No entanto, como veremos, alguns dos seus membros interrogaram ou provocaram os detidos. Dela fizeram parte: Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé), Ambrósio Lukoki, Costa Andrade (Ndunduma), Paulo Teixeira Jorge, Manuel Rui, Diógenes Boavida, Artur Carlos Pestana (Pepetela), José Mateus da Graça (Luandino Vieira)*, Mendes de Carvalho, Henrique Abranches, Eugenio Ferreira, Rui Mingas, Beto van Dunem, Cardoso de Matos, Paulo Pena e outros não identificados.»«O inquiridor principal foi Artur Carlos Pestana (Pepetela). Num registo particularmente agressivo, queria saber quais eram as suas actividades, se e quando tivera reuniões, quem contactava, como funcionavam as ligações entre os sectores da educação, da saúde e da função pública. [...] Foi também interrogado por Manuel Rui. [...] Maria da Luz Veloso, na altura com 47 anos, também se lembra de ter comparecido nesta Comissão, onde foi interrogada por Pepetela e por Manuel Rui. [...] Como não fazia o que pretendiam, Manuel Rui não hesita em dizer: “A minha vontade era dar-lhe um par de bofetadas. Você não colabora. Vejo-me obrigado a entregá-la aos militares.” Os detidos passavam para os militares. E para as torturas.»«Presos atirados pelas escadas e, no pátio, brutalmente espancados. Berravam e pediam clemência. Quase desfalecidos eram atirados para dentro de viaturas. Um mercenário norte-americano comentava: “Já vi muita coisa na minha vida. Mas nunca tinha visto tal coisa.”»
«João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, morreu com o garrote do nguelelo. Também consta que o tinham cegado. Foi interrogado por Pedro Tonha (Pedalé), o qual, possivelmente como prémio, subirá do 10º para 4º lugar na hierarquia do MPLA. No entanto, nem coragem tinha para lhe fazer as perguntas. Os algozes deixavam na sala um gravador, para depois reproduzirem o que dizia. E iam apertando o garrote. [...] Ao que parece, atiraram o corpo de um avião.»
«A indicação para o seu fuzilamento [Nito Alves] terá sido do presidente da República, embora na Fortaleza, onde estava, a ordem tenha sido dada por Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé) e Carlos Jorge. Nito não quis que lhe tapassem os olhos, pois queria ver os que o iam matar. O corpo foi varado por umas três dezenas de balas. E um dos chefes ainda lhe foi dar o tiro de misericórdia. O seu corpo foi atirado ao mar, com um peso.»«Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteia-no [a Costa Martins], batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Uma das vezes puseram-no numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Ainda cheirava a carne queimada.»
«Em meados de Junho [Sita Valles] é presa com o marido [José Van Dunem]. Entra no Ministério da Defesa de mão dada com José. [...] Terá ido para a Fortaleza de S. Miguel. Terá sido torturada e violada por elementos da DISA. [...] Várias fontes, entre as quais um responsável da DISA, declaram que se encontrava novamente grávida. Terão esperado que tivesse a criança para depois a fuzilar. O bebé nunca foi entregue à família. [...] Uma presa ouviu contar que, antes de a matarem, lhe deram um tiro em cada braço e em cada perna.» [Correcção aos autores, por mão amiga deste blog: o filho de Sita Valles foi entregue à família e foi criado por Francisca Van Dunem. Doutorou-se em economia em Inglaterra, trabalhou para o Banco Mundial em Maputo e está a fazer um pós-doutoramento na Dinamarca.]«Os cálculos sobre o número de mortos variam. Um responsável da DISA, ouvido por nós, fala em 15 000. A Amnistia Internacional fez um levantamento e avançou com 20 000 a 40 000. Adolfo Maria, militante da Revolta Activa, e José Neves, um juiz militar, falam de 30 000 mortos. O jornal Folha 8 falou de 60 000. E a chamada Fundação 27 de Maio foi até aos 80 000. [...] Quedemo-nos pelos 30 000 mortos. Dez vezes mais mortos do que no Chile de Pinochet. Na própria família política. Sem qualquer julgamento. E em muitos casos sem qualquer relação com os acontecimentos.»«Em Malanje foram fuziladas mais de mil pessoas. No Moxico, Huambo, Lobito, Benguela, Uíje e Ndatalando aconteceu o mesmo. No Bié mataram cerca de 300 pessoas. Em Luanda, os fuzilamentos prosseguiram durante meses e meses.»«As cadeias eram sucessivamente cheias e sucessivamente esvaziadas, desaparecendo as pessoas. [...] Um grupo de militares foi morto na periferia de Luanda, junto a uma praia. Foram abatidos um a um, com tiros na cabeça. Os vivos que assistiam à cena pediam clemência. Os verdugos divertiam-se. E continuavam a matar, com um tiro na cabeça.»«As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.»«Estudantes que estavam na União Soviética, na Bulgária, na Checoslováquia e noutros países do Leste, foram mandados regressar. No aeroporto de Luanda foram presos. E muitos foram decapitados, sem saberem a razão. [...] Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala.»«Onde param os fuzilados? Uns foram depositados em valas comuns. Outros lançados de avião ou de helicóptero para o mar ou para a mata. [...] Um ano depois do 27 de Maio, ainda se matava. Ademar Valles [irmão de Sita Valles] foi morto em Março de 1978.»«O juiz José Neves conclui: “Foi um verdadeiro genocídio. Em Angola devem ter morrido umas 30 000 pessoas.”»«A questão dos presos portugueses em Angola era tratada com a máxima moderação, ao contrário do que acontecia com na imprensa ocidental com casos de idêntica natureza. [...] A solidariedade com os presos políticos angolanos era, também, um tema de excepção na imprensa portuguesa, evitando-se qualquer crítica ao regime do MPLA. Apenas a poetisa Natália Correia, no Jornal Novo, se referira a um regime de sistemática repressão policial, falando mesmo no Gulag angolano.»«Muitos dos “libertadores” sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores do que estes. Desculpar-se-ão com a guerra. Só que a guerra, que tantos matou e estropiou, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas.»Dalila Cabrita Manteus e Álvaro Mateus,
Purga em Angola. Nito Alves, Sita Valles, Zé Van Dunem e o 27 de Maio de 1977. Edições Asa.
* agora continuem a comprar livros escritos por essa escumalha bufa e a tratá-los como intelectuais humanistas...

domingo, 14 de outubro de 2007

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

...100º número da Wallpaper*...


...mais um bom livro...



"O desejo de ser inútil"

As memórias e as reflexões de Hugo Pratt, a partir de entrevistas conduzidas por Dominique Petitfaux.
Um livro extraordinário e muito belo. As palavras de Hugo são importantes. As ilustrações são fabulosas.
Hugo Pratt é o criador de um dos meus escassos heróis: Corto Maltese.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

...pensamento nocturno nº 15.285.236

A iliteracia portuguesa é mais perigosa do mundo porque veste roupa de marca, utiliza automóveis topo de gama e até consegue disfarçar-se de professora universitária.

domingo, 7 de outubro de 2007

sexta-feira, 5 de outubro de 2007


Missas ????!!!!!!!!!

...porque hoje é 5 de Outubro...





Hoje, 5 de Outubro, em que se comemora a implantação da República (05.X.1910) apetece-me lembrar D. Manuel II ( Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança), Rei de Portugal, anteriormente Infante de Portugal e Duque de Beja, nasceu em 15 de Novembro de 1889 e faleceu no exílio em 2 de Julho de 1932 (aclamado em 6 de Maio de 1908).
O último monarca português, um homem bom e de uma extraordinária dignidade.

...cruzes, canhoto!!!!!!...


Onde rir é uma coisa muito séria.
Todos os detalhes AQUI

terça-feira, 2 de outubro de 2007

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Burma is ruled by one of the worst military dictatorships in the world. This week Buddhist monks and nuns began marching and chanting prayers to call for democracy. The protests spread and hundreds of thousands of Burmese people joined in -- they've been brutally attacked by the military regime, but still the protests are spreading.

I just signed a petition calling on Burma's powerful ally China and the UN security council to step in and pressure Burma's rulers to stop the killing. The petition has exploded to over 200,000 signatures in a few days and is being advertised in newspapers around the world, delivered to the UN secretary general, and broadcast to the Burmese people by radio. We're trying to get to 1 million signatures this week, please sign below and tell everyone!

ASSINAR A PETIÇÃO AQUI