terça-feira, 30 de outubro de 2007


A chamada civilização ocidental, herdeira de uma amalgama aristotélica, judaica e cristã, que foi liderada por vários séculos pela Europa e posteriormente pelos Estados Unidos da América e que encerra em sim mesmo vários postulados, muitos deles contraditórios, em que o capitalismo, o neo-liberalismo, o estado-social, o humanismo, a social-democracia, entre outras correntes, convivem numa dinâmica quase inacaracterizável e em que a apelidada “raça branca”, sobretudo cristã e judaica, vive hoje os seus últimos momentos.

Esse epílogo civilizacional acontece – como sempre aconteceu em relação a todas as civilizações ao longo da História – por culpa da própria civilização ocidental.

As suas contradições, a sua incapacidade de uma interacção coerente com as demais civilizações e a sua incapacidade de criar condições para que os seus membros se reproduzam a um ritmo razoável, fragilizaram-na e permitiram a germinação das sementes da sua própria destruição.

Basta observar com alguma atenção a vida em qualquer mega-aglomerado urbano no chamado mundo ocidental, a emergência de novos potentados com características civilizacionais - que estão paulatinamente a utilizar a corda que a civilização ocidental fabricou para a enforcar – para perceber este cântico do cisne.

Nós, últimos filhos desta civilização, temos que nos adaptar a uma nova realidade, que basicamente muitos denominam de Multiculturalismo, mas que a mim me parece mais um Multicivilizacionismo. A civilização ocidental, desde tempos imemoriais, sempre se relacionou com culturas diferentes, mas em rigor essa relação assentava numa relação de domínio, sobretudo um domínio militar e económico.

Esse domínio já não existe e os próprios interstícios desta civilização estão a ser ocupados crescentemente por pessoas que da mesma só utilizam os instrumentos, mas que matricialmente em quase nada com ela comungam.

Este fim civilizacional não é nenhuma tragédia é apenas uma inevitabilidade.

Este Multicivilazacionismo a que já pertencemos mas que ainda não demos conta disso e das suas implicações - e por isso mesmo mantemos intacta uma arrogância que só nos é prejudicial -, vai obrigar a uma reformulação de princípios e valores e vai ditar a procura inexorável de novos equilíbrios, mas pode ser uma aventura extraordinária a viver pelos nossos descendentes, que cada vez mais serão menos louros, rosadinhos e obesos – porque em regra assim são os mais poderosos entre nós - para serem das muitas cores da Terra. E isso, quanto a mim, é potencialmente bom.

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