sábado, 23 de fevereiro de 2008

...




“A casa tinha-se-lhes enchido de merda. Havia poucos anos que viviam ali mas já empestava a merda das galinhas e dos porcos que criavam no terraço. A casa de banho estava um nojo e dava a impressão que nunca a limpavam. Mas a mim tanto se me dá. Os negros são assim. Cheguei à procura de Hayda, mas só estava Caridad. Falamos dos assuntos do momento: comida, dólares, miséria, fome, Fidel, dos que se vão, dos que ficam, de Miami…De tarde não tinha nada que fazer. Bom, é assim dia após dia. Nunca se faz nada. Tinha cinco pesos no bolso e sentei-me no chão, encostado à porta. Há dias que não bebia nada, sem dinheiro à espera. À espera de quê? De nada. À espera. Aqui toda a gente espera. Um dia de cada vez. Ninguém sabe do que está à espera. Os dias passam. E o cérebro fica embotado. O que é um bem. Ter o cérebro embotado é bom para não pensar. Às vezes penso de mais e entro em desespero. Em tempos fui estudante, fui disciplinado, tive objectivos para amanhã e para o próximo ano, e fui à luta pelo mundo. Depois tudo se transformou em sal e água e vim cair nesta pocilga. Uns têm sarna, outros têm piolhos, ou lêndias. Não há dinheiro, nem comida, nem trabalho, e todos os dias chega mais gente. Não sei de onde surge tanta gente maltrapilha. Vivem como baratas. Dez ou doze num quarto.
Por isso o melhor é não pensar muito e uma pessoa divertir-se. Rum, mulheres, marijuana. Uma rumbazita de vez em quando. O resto é merda e é melhor não remexer nela, que é para não cheirar mal.” GUTIÉRREZ, Pedro Juan, “Trilogia Suja de Havana”.


2 comentários:

Unknown disse...

Que merda!...

Longe vão os tempos do Che Guevara...

Tens razão. Mais valia não comentar "...".

nana disse...

....

:,o(



...



http://marulhos.blogspot.com/2008/02/cuba_21.html