É evidentemente latina a tradição de pegar no Dia dos Fiéis Defuntos e encaixá-lo no Dia de todos os Santos. Eu acho bem. Passam a ser todos santos…os defuntos, tivessem sido fiéis ou nem por isso.
Hoje peguei na minha filha e fui ao cemitério onde repousam alguns dos meus mortos mais chegados e encontrei parentes vivos.
Esses mortos que lá estão e que ocupam o jazigo da família são todos da minha linhagem directa maternal. A minha mãe, uma tia, a minha avó materna, o meu avô materno e uma segunda prima.
Dei por mim a pensar – o que nos vai no pensamento em tais sítios e ocasiões – que era uma espécie de casa de mulheres, tirando, é claro, o meu avô. No entanto como ele próprio só teve filhas (4) poderei dizer que se encontra no seu ambiente natural.
Esse jazigo, atendendo a quem o ocupa, deve ser um espaço bem alegre e em certos dias até hilariante.
O meu avô, apesar de rígido e muito severo, era capaz das mais extraordinárias pieguices. A minha avó era sábia, uma verdadeira senhora de sua casa, de resposta pronta e humor cortante. A minha tia, a irmã mais velha da minha mãe, foi uma intelectual, dada a livros, dada a peripécias cheias de graça e apaixonada pelo cinema, paixão que facilmente consumava, já que o meu defunto e senhor avô também tinha um cinema. A segunda prima – sobrinha do meu avô - conseguiu ser comunista numa família de católicos, conseguindo até que o meu avô pagasse o funeral ao marido apesar do dito não ter tido qualquer cerimónia religiosa e levasse no caixão a bandeira do PC. Ainda me lembro do ar pungido do meu avô ao saber que tinha que pagar o velório do “comuna”.
A minha mãe…bem a minha mãe foi uma força da natureza, uma boa personificação da criatividade e das paixões ilimitadas, paixões essas que acrescentava com uma imensa afectividade e com uma capacidade de arrancar uma gargalhada ao mais sisudo.
Portanto esse jazigo deve tudo menos um espaço de circunspecção. Além do mais deve-se comer muitíssimo bem. Comer bem quanto à forma, conteúdo e circunstância.
Apesar da saudade não consigo ficar triste e depois de partidos os parentes ainda me ri com a minha filha – que é, também, uma mulher daquela linhagem – em relação a coisas que ambos sabemos e outras que aproveitei a ocasião para lhe contar.
Espero sinceramente que um dia em que eu for um dos visitados a minha filha se sinta como eu me senti hoje enquanto visitava quem visitei: gratidão, uma estranha alegria e um sereno orgulho na cepa em que rebentei.
Hoje peguei na minha filha e fui ao cemitério onde repousam alguns dos meus mortos mais chegados e encontrei parentes vivos.
Esses mortos que lá estão e que ocupam o jazigo da família são todos da minha linhagem directa maternal. A minha mãe, uma tia, a minha avó materna, o meu avô materno e uma segunda prima.
Dei por mim a pensar – o que nos vai no pensamento em tais sítios e ocasiões – que era uma espécie de casa de mulheres, tirando, é claro, o meu avô. No entanto como ele próprio só teve filhas (4) poderei dizer que se encontra no seu ambiente natural.
Esse jazigo, atendendo a quem o ocupa, deve ser um espaço bem alegre e em certos dias até hilariante.
O meu avô, apesar de rígido e muito severo, era capaz das mais extraordinárias pieguices. A minha avó era sábia, uma verdadeira senhora de sua casa, de resposta pronta e humor cortante. A minha tia, a irmã mais velha da minha mãe, foi uma intelectual, dada a livros, dada a peripécias cheias de graça e apaixonada pelo cinema, paixão que facilmente consumava, já que o meu defunto e senhor avô também tinha um cinema. A segunda prima – sobrinha do meu avô - conseguiu ser comunista numa família de católicos, conseguindo até que o meu avô pagasse o funeral ao marido apesar do dito não ter tido qualquer cerimónia religiosa e levasse no caixão a bandeira do PC. Ainda me lembro do ar pungido do meu avô ao saber que tinha que pagar o velório do “comuna”.
A minha mãe…bem a minha mãe foi uma força da natureza, uma boa personificação da criatividade e das paixões ilimitadas, paixões essas que acrescentava com uma imensa afectividade e com uma capacidade de arrancar uma gargalhada ao mais sisudo.
Portanto esse jazigo deve tudo menos um espaço de circunspecção. Além do mais deve-se comer muitíssimo bem. Comer bem quanto à forma, conteúdo e circunstância.
Apesar da saudade não consigo ficar triste e depois de partidos os parentes ainda me ri com a minha filha – que é, também, uma mulher daquela linhagem – em relação a coisas que ambos sabemos e outras que aproveitei a ocasião para lhe contar.
Espero sinceramente que um dia em que eu for um dos visitados a minha filha se sinta como eu me senti hoje enquanto visitava quem visitei: gratidão, uma estranha alegria e um sereno orgulho na cepa em que rebentei.
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