domingo, 2 de novembro de 2008

...do capitalismo neo-liberal, da agricultura e de Portugal...

Já todos percebemos que os feitos do descalabro causados pelo capitalismo neo-liberal não são sentidos apenas sentidos no universo financeiro mas também, e muito especialmente ao nível da economia.
Esses efeitos económicos são uma catástrofe para os três sectores: terciário, secundário e primário.
Se em relação ao terciário e secundário o alarme – justo – já é geral, muito poucos são aqueles que se têm preocupado com o primário, muito particularmente com o sub-sector das pescas e da agricultura.
Por todo o planeta, motivado pela lógica do capitalismo neo-liberal, em que o investimento nos mercados exigia lucros quase imediatos, obrigou à concentração da propriedade e ao domínio da mesma por grandes grupos multinacionais. Da Ásia à América Latina e da Europa à África, a pequena propriedade deu lugar aos hectares e hectares pertencentes a bem poucos e à prática de uma agricultura intensiva e extremamente mecanizada o que fez com que os milhões de antigos proprietários nem sequer tivessem tido a possibilidade de se tornarem trabalhadores nos seus antigos terrenos.
Essa realidade trouxe, além de muitos outros, um efeito de monoculturação em áreas vastíssimas com recurso à química, prejudicando severamente o ambiente e destruindo a biodiversidade ao serviço da alimentação dos povos.
Portugal, que graças à PAC, deixou de pescar o peixe que come e de semear o pão que come, desperdiçando recursos, desequilibrando muitas economias familiares, alterando a paisagem, que de claramente agrícola passou a bosque, está hoje numa situação extremamente difícil, que acrescentando os problemas do desemprego que assolam o terciário e o secundário, se torna dramática.
É altura do governo olhar para a terra com outros olhos e transformá-la num instrumento de fixação de populações no interior e de riqueza familiar.
Não será um processo fácil, já que a presença na União Europeia implica uma margem de manobra própria muito exígua, mas há sempre possibilidade de fazer alguma coisa, como por exemplo obrigar os circuitos de distribuição internos a praticarem taxas obrigatórias de produtos nacionais e estender essa obrigatoriedade a uma gama alargada de produtos agrícolas desde os cereais aos fruto-hortículas, tendo em conta as reais possibilidades de produção em Portugal. Outra medida seria a desoneração quase total, do ponto de vista fiscal, da pequena propriedade e das suas respectivas produções.
Temos que mudar o paradigma em que vivemos e o re-olhar da agricultura é uma necessidade.

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