A gestão dos factos e do tempo assume especial importância na política. Saber lidar com os factos, valorando-os na sua justa proporção, perceber as suas causas e consequências, é a forma mais prudente para se levar a “carta a Garcia” e exige inteligência e treino.
Tudo vale conforme cada um de nós valoriza, nem mais nem menos, e essa valoração é pessoal e indelegável. A gestão do facto não passa pela atribuição alheia de importância, atribuição essa, que na maior parte dos casos, resulta da ignorância pura e simples ou de estratégias que não residem no facto em si mesmo mas em circunstâncias diversas. Para lidar com isso é preciso “calo” e saber, com rigor, perceber o que se esconde para lá do aparentemente óbvio. É uma espécie de estar sentado, descansando e observando, próprio daqueles que já vieram do sítio para onde os outros acabam de partir.
A gestão do tempo é, também, igualmente importante. O tempo tem que a ser, na medida máxima das possibilidades, o nosso tempo e não o tempo dos outros. Dar tempo ao tempo na exacta proporção que o tempo precisa para ser o tempo certo.
Quem se assenhoria do tempo, descobre com facilidade o modo certo e condiciona as circunstâncias.
O estar só ajuda muito na aquisição da ciência do controlo dos factos e dos tempos. Essa solidão é uma experiência fundamental para esse conhecimento, sobretudo quando se lida com muita gente que não sabe que, no fundo no fundo, também está só. Saber-nos sós, de nós apenas dependentes, auxilia-nos muito nas solidariedades que escolhemos assumir e manter, custe o que custar. A quem a merece. Sempre.
No entanto não há caminho consistente a seguir sem trabalho – muito trabalho – e sem aprendizagem. Saber, tentar perceber, analisar e trabalhar – trabalhar sempre – são tónicos da inteligência e ases de trunfo de quem sabe que está só.
Há muita gente – e não faltam exemplos disso na política – que se escora noutros alicerces, como por exemplo ligações familiares, fortunas pessoais, comprometimentos com o que e com quem não se deve e até a diarreia verbal. Mas esses só muito raramente levam a “carta a Garcia”, na maior parte dos casos desaparecem dissolvidos na sua própria vacuidade. Pode demorar mais ou menos tempo, mas no fim a carta que lhes coube entregar nunca chega ao seu destino.
Também é preciso preferir a expressão “não” ao simpático “sim” e não ter medo nunca, sejam quais forem as circunstâncias, de saber conjugar o verbo “poder” (não o substantivo), muito especialmente na primeira pessoa do singular.
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