Pessoa é fractal. Dentro de cada Pessoa há outro Pessoa e assim, sucessivamente, sem fim, sem haver Pessoa para além de Pessoa, da esconsa viela à Avenida do V Império.
Pessoa é a lucidez das mensagens ambíguas, do que não gosta de ser, gostando de não gostar de ser ao mesmo que gostaria de ser Pessoa diferente.
Pessoa é um nevoeiro denso leve, etílico, mas matematicamente preciso.
Pessoa é a ansiedade do horóscopo, a fragmentação da rocha de praia, o astrolábio do desamor que muito ama.
Pessoa é mesa de café a navegar à deriva num oceano de aguardente salgada por lágrimas.
Pessoa é um gigante, disfarçado em não Pessoa que usou óculos redondinhos.
Pessoa é o ridículo elevado ao máximo expoente da farsa que esconde a mais séria das verdades: o destino, fatal, roleta pré-programada.
Pessoa, o Portugal D'Além.
Nasceu Pessoa, denominado Fernando, há 120 anos.
Post scriptum: Eu, europeu de nado-geografia, tropicalista por inevitabilidade, medianamente conhecedor da História e das suas circunvoltas, um estudioso e praticante da natureza humana, nunca me quis convencer das vantagens da “União” que, aliás, considero um mero episódio da conjuntura alargada e não uma estrutura, rio-me com este “Não” irlandês.
Não deixa de ser curioso que no único país onde o povo se pode pronunciar, pronunciou-se pela negativa em relação ao desconcerTratado de Lisboa.
A Europa-unidade é um mito fixado pelas fronteiras do cristianismo continental, pontualmente conseguida pela força da espada e dos canhões, mas nunca sem resistência e sem, ab initio, as sementes da sua destruição.
Bela maneira de comemorar os 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa.
3 comentários:
Coincidências que convidam a um analise comparativo.
Gostei da tua exposição sobre Pessoa. Também, o vi assim, escondido detrás desses óculos tão pessoais. No entanto plasmava como ninguém, com um grande domínio da metáfora o sentir dum povo, o seu.
Quanto ao da Irlanda, são dali e, daqueles lados, não pode sair nada que se aproveite.
Não estou tão convencida de que, da Irlanda, não possa sair nada que se aproveite.
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Apesar de demasiado "católicos", para o meu gosto, reconheço-lhes uma identidade única que se fez manifestar, até violentamente, contra a Grã-Bretanha [país, ou lá o que é..., pelo qual não nutro grande apreço], independentemente de poder concordar, ou não com o estilo dessa violência .
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Esta "ideia", tornada realidade, de uma Europa unida é tão longínqua... teve episódios tão infelizes, ao longo dos tempos, fez-se com tantas guerras e mortes, que não poderia entusiasmar-me, nunca. A mim, não.
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Até me esqueci de comentar os 120 anos de Fernando Pessoa... e dos seus heterónimos.
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Merece comentário à parte, de facto. Merece.
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[Beijo geminiano]
...porque Pessoa consegue ter na sua obra um pouco de todas as pessoas que somos nós, por isso é tão fácil identificarmo-nos com ele (nem que seja um pouco apenas)...
Da Irlanda veio se calhar o NÃO que de muitos outros lados viria se tivesse surgido a oportunidade
boa semana
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