A sedimentação do “Bloco Central” que governa o País há décadas corresponde a uma resposta que o País deu ao desgaste provocado pelas clivagens ideológicas surgidas nos anos imediatamente após o 25 de Abril.
O País precisava de serenar - e de tal forma foi a necessidade de serenar que até o assassinato de um Primeiro de Ministro e do Misnistro da Defesa foi absorvido pelo mata borrão desse imperativo - e arregimentou ao “centro”, suficientemente amplo para uma gestão maximizada dos interesses.
O problema é que essa gestão maximizada dos interesses foi efectuada à custa da morte das “Ideias” e da necessidade da reflexão consistente para a elaboração de projectos e estratégias destinadas a conduzir um País num contexto planetário de mudança.
O “centro” provocou a navegação sem norte, ao mero sabor dos modos, dos tempos e das circunstâncias.
Provocou o culto da competitividade e do sucesso a qualquer preço, catalizou o paradigma da ignorância e sacralizou a fulanização.
Hoje isso deixou de ser possível porque o País está mergulhado numa profunda crise, que para além da económica é de valores, confrontado com um “Mercado” que já não é mais um instrumento para a qualidade vida para ser um déspota condicionador.
Os valores só se reconquistam através das “Ideias” e as “Ideias” precisam uma das outras para se fortalecerem ou fenecerem.
É preciso que apareçam à discussão e ao escrutínio público muitas “Ideias” para Portugal e para os Portugueses.
“Ideias” que pintem o Portugal que somos e o Portugal que queremos ser com cores nítidas e susceptíveis de escolha.
Por outro lado é necessário acabar a confusão existente – e a comunicação social tem algumas culpas nesse cartório – que comentar é idealizar. São coisas distintas. O comentário faz sentido em relação ao idealizado e ao praticado.
Estamos pejados de comentadores político-sociais e numa enorme míngua de pensadores político-sociais.
Os partidos políticos – sobretudo os do “centrão” – perderam essa capacidade e – se calhar – em rigor nunca a tiveram porque aparentemente não parecia necessária. Mas é e muito. O resultado está à vista.
A urgência das “Ideias” não é nenhum romantismo. Bem pelo contrário, é de um pragmatismo absoluto.
1 comentário:
Quem disse que o concreto é o abstracto tornado familiar pelo uso? (não sei se é exactamente assim e não lembro o autor)
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