quarta-feira, 3 de setembro de 2008

...notas sobre buenos aires...

Buenos Aires. É uma senhora idosa que no salão de chá, inaugurado ainda o seu pai usava calções, que lancha vagarosamente, olhando o mundo vendo para dentro de si.
Buenos Aires. É uma mulher madura que caminha segura na Floridita, parando em cada montra para observar em cada vidro o espelhar dos olhos de quem a deseja.
Buenos Aires. É uma rapariga gasta pela aspereza de todas as enxergas em que cedeu, a troco de quase nada, o corpo que julga seu.
Buenos Aires.
Buenos Aires gosta de fingir que é uma Barcelona nas margens do Sena.
Buenos Aires é o tango e o tango é a dignidade da fúria de quem se mata morrendo por paixão.
Buenos Aires é uma lágrima. Uma lágrima que não vê, não por ser transparente mas porque nunca brota. Uma lágrima de quem se conformando nunca se conforma. Uma lágrima de quem sabe tanto e que por isso mesmo gostaria de não saber nada.
Buenos Aires ilude a alma vermelha com um palácio cor de rosa.
Buenos Aires chora quem falta e ri de quem a julga.
Eu podia bem fazer de Buenos Aires o meu túmulo desde que para tanto fosse enterrado de fato completo, escuro e de bom corte. De outra forma não.

2 comentários:

mdsol disse...

:))

Unknown disse...

Lindíssimo este relato sobre uma cidade!...
Parece viva... por isso, não esquece a morte.
[Beijo...]