sábado, 21 de junho de 2008

...chegado a este ponto...

Chegado a este ponto, ele, só gostava do calor. Do húmido e do tórrido. Do que nos faz a pele um charco e daquele que nos seca esse mesmo charco, transformando-o num deserto moreno.
Chegado a este ponto, ele, só gostava de comer o que se pode comer logo de imediato ou após qualquer coisa de muito simples como descascar, cozer ou grelhar.
Chegado a este ponto, ele, só gostava de beber água ou rum amarelo.
Chegado a este ponto, ele, só gostava de ler as tabuletas: a da barbearia, a da mercearia-bar e do “há quartos”, dentro destas preferindo as mais completas que diziam “há quartos com água quente”.
Chegado a este ponto, ele que tinha decidido suicidar-se assim, só tinha pena de não ser surdo nem mudo. À cautela, com medo que fosse castigado com a cegueira, continuava a ouvir e a falar, mas fazia por ouvir muito pouco e a falar ainda menos.
Chegado a este ponto, ele, enganava toda a gente enganando-se a ele próprio: a gente pensava que ele estava vivo, quando ele sabia que estava morto, a ele próprio porque se acreditava fantasma quando toda a gente o via vivo.
Chegado a este ponto, ele, estava-se nas tintas para tudo e para todos.
Chegado a este ponto, tudo e todos, estavam-se nas tintas para ele.
Chegado a este ponto, estava encontrado o ponto certo. Acertadamente.

1 comentário:

Unknown disse...

Quando se chega ao ponto verdadeiramente ao ponto
é o nada
é a não dimensão
por isso
acertadamente
matematicamente
invisível
indizível
zen!

[Beijo!]