domingo, 23 de março de 2008

...da nossas estranhas entranhas e respectiva natureza...

Assim somos feitos

De correrias à moirama
De joelhos feridos na areia da praça
De lambidelas no braço salpicado de mar seco
De desacatos na esquina escura

De ofensas agora intoleráveis e logo relevadas
De amores mil e esquecidos
De navegares ao acaso e à procura da sorte do encontrar
De sonhos construídos numa vida inteira, tornados meras quimeras no funeral
De riso que intercala com a dor fado
De paz que preguiçosamente faz a guerra
De amor imenso aos filhos nossos, dos outros e de todos
De sina manhosa de porteiro de prédio na cidade grande e estrangeira
De poesia amarrada em corpo de guarda-livros
De sangue anarca que deixa a meio as revoluções
Do rubro dos cravos em vaso impossível de metralhadora
De comprometimentos tão fortes e fingidos com as vacas de leite feito subsídio
De certezas que tudo o mais passa e aquilo de que somos feitos para sempre fica


post scriptum: podia ser muito pior.

1 comentário:

Unknown disse...

Palavras tão pertinentes, estas, as tuas.

Tens razão...
... podia ser muito pior.
... mas podia ser melhor, um bocadinho, que fosse.

Gostei muito de te reler.

[BEIJO]