Quando falamos de “graffiti” estamos a referir-nos a uma manifestação marcadamente urbana, que nem sempre é de carácter artístico.
Um “graffiti” procura, quase sem excepções, transmitir uma determinada mensagem cuja descodificação poderá ser apenas possível a “iniciados” – e como exemplo temos aqueles que se limitam a ser reproduções de caracteres à laia de hieróglifos contemporâneos – ou, então, possível a um vasto público, nos casos em que a mensagem pictórica é clara, sendo fácil a interpretação dos factos ou circunstâncias que o “graffitador” pretendeu publicitar.
Os “graffitis” de carácter hermético – pelo simples facto de o serem – não têm qualquer função social a não ser funcionarem como uma espécie de escape ou catarse do “graffitador”. Esses graffitis são, em regra, apenas atentados ao património alheio, efectuados gratuitamente, com uma fúria insana e inconsequente que não excede do ponto de vista das consequências sociais, muitas vezes, a destruição pura e simples do suporte físico, constituindo, ma maior parte dos casos um crime condenável, não tanto pelo que revela mas sobretudo pelo que destrói.
É aquilo que eu chamo lixo urbano, manifestações quase patológicas de energúmenos idiotas.
Já o outro género de graffitis, em que o autor(es) procura que a sua mensagem seja perceptível pela comunidade, em que há uma manifesta preocupação social – seja ela qual for – e em que – sobretudo – o “graffitador” tem talento artístico, é algo, que de uma forma geral me agrada bastante, especialmente quando é efectuado sobre suportes sem valia intrínseca, como por exemplo muros velhos, obras abandonadas, taipais inestéticos, etc.
Estes “graffitis” seguem uma tradição cultural muito antiga que, sem grande esforço intelectual, podemos recuar até às pinturas rupestres, passando pelos frescos clássicos e renascentistas até às pinturas murais dos loucos anos 20 do século passado.
É verdade que quase todos os graffitis são criados em propriedade alheia, pública ou privada, mas é igualmente verdadeiro que quando são de qualidade valorizam social e esteticamente superfícies normalmente degradas pela incúria.
Todas as cidades têm exemplos dos vários tipos de graffitis. Tem graffitis que não passam de uma irresponsável destruição de património, inconsequentes e absurdos e têm graffitis que são manifestações sociais, perspectivadas em obras estética e artisticamente de grande valia.
Se os primeiros devem ser reprimidos e eliminados e os seus autores severamente punidos – como por exemplo aqueles efectuados sobre a superfície de monumentos, de equipamentos públicos, do género de paragens de autocarro e metro e quiosques, sobre paredes e muros de prédios e moradias habitadas e cuidadas – outros, da “segunda categoria” por mim referida, como por exemplo aqueles que são produzidos em edifícios abandonados, estruturas eternamente em obras, taipais feios, muros cinzentos e áridos e que do ponto de vista da mensagem há um intenção e percepção de carácter social, estética e artística, esses devem ser apreciados e até mesmo protegidos.
Uma cidade, conforme afirmou Giulio Carlo Argan - e que eu não me canso de repetir – é uma mais extraordinária das obras de arte, e uma cidade é quanto mais rica quanto mais variadas e inteligentes forem as suas manifestações.
1 comentário:
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