Mestre,
No próximo dia 19 o teu corpo será trasladado para o Panteão Nacional. É onde deve estar, ao lado de outros que da lei da morte se libertaram.
Li-te aos 18 anos. Li-te quase todo de rajada, uns livros atrás dos outros, dos romances aos contos.
Comecei a ler-te por mero acaso, por desenfado, num dia em que não tinha outro livro a jeito. Comecei com desconfiança achando, no entanto, piada ao título do dito: “Andam Faunos pelos Bosques”.
Ao fim das dez primeiras páginas percebi que só iria parar de o ler na última. Ao fim das dez primeiras páginas decidi que tinha que te ler todo.
Nota bem Mestre, que eu aos 18 anos já tinha devorado Sartre, Kafka, quase todos os da “Geração Perdida”, com destaque para o Hemingway, Fitzgerald, Steinbeck e Passos e já tinha dissecado o Eça e o Camilo. Enfim Mestre, eu aos 18 anos, já não era propriamente um amador nestas coisas do ler e por isso mesmo o efeito que as tuas palavras escritas provocaram em mim foi espantoso.
Tornaste-te o meu escritor português preferido e um dos melhores escritores com que tive a sorte de encontrar e confrontar em toda a minha vida.
És o Mestre do Portugal Profundo, que muitos julgam, erradamente, desaparecido. És o arauto permanente daquela alma esconsa, labiríntica, rude e cortante como as fragas, cristalina e alegre como a água das nascentes do alto, radiosa como o sol de Estio e assassina como o frio brusco e afiado do Inverno.
És o Mestre no apontar de enigmas tão velhos quanto a humanidade, és o Mestre na autópsia da natureza humana.
Também roçaste as cidades e provaste que as entendias como ninguém e percebias perfeitamente a desilusão do operário e a revolta do anarquista.
Mestre, é pena que te leiam tão pouco e que de ti só quase retenham o anedotário do “Malhadinhas”.
É pena, não por ti mas por nós.
Obrigado.
“De pena na mão procuro ser independente, original, inteiriço como um bárbaro.”(Aquilino Ribeiro)
“Cada escritor pode e deve fazer tudo o que quiser, desde que não se arme em fariseu e não esteja nunca contra os simples, de braço dado com os trafulhas, nem contra os fracos, de barco dado com os poderosos.” (Aquilino Ribeiro)
“Olhem sempre em frente, olhem o Sol, não tenham medo de errar, sendo originais, iconoclastas e anti, o mais anti que puderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do Restelo. Cultivem a inquietação como fonte de renovamento." (Aquilino Ribeiro)
No próximo dia 19 o teu corpo será trasladado para o Panteão Nacional. É onde deve estar, ao lado de outros que da lei da morte se libertaram.
Li-te aos 18 anos. Li-te quase todo de rajada, uns livros atrás dos outros, dos romances aos contos.
Comecei a ler-te por mero acaso, por desenfado, num dia em que não tinha outro livro a jeito. Comecei com desconfiança achando, no entanto, piada ao título do dito: “Andam Faunos pelos Bosques”.
Ao fim das dez primeiras páginas percebi que só iria parar de o ler na última. Ao fim das dez primeiras páginas decidi que tinha que te ler todo.
Nota bem Mestre, que eu aos 18 anos já tinha devorado Sartre, Kafka, quase todos os da “Geração Perdida”, com destaque para o Hemingway, Fitzgerald, Steinbeck e Passos e já tinha dissecado o Eça e o Camilo. Enfim Mestre, eu aos 18 anos, já não era propriamente um amador nestas coisas do ler e por isso mesmo o efeito que as tuas palavras escritas provocaram em mim foi espantoso.
Tornaste-te o meu escritor português preferido e um dos melhores escritores com que tive a sorte de encontrar e confrontar em toda a minha vida.
És o Mestre do Portugal Profundo, que muitos julgam, erradamente, desaparecido. És o arauto permanente daquela alma esconsa, labiríntica, rude e cortante como as fragas, cristalina e alegre como a água das nascentes do alto, radiosa como o sol de Estio e assassina como o frio brusco e afiado do Inverno.
És o Mestre no apontar de enigmas tão velhos quanto a humanidade, és o Mestre na autópsia da natureza humana.
Também roçaste as cidades e provaste que as entendias como ninguém e percebias perfeitamente a desilusão do operário e a revolta do anarquista.
Mestre, é pena que te leiam tão pouco e que de ti só quase retenham o anedotário do “Malhadinhas”.
É pena, não por ti mas por nós.
Obrigado.
“De pena na mão procuro ser independente, original, inteiriço como um bárbaro.”(Aquilino Ribeiro)
“Cada escritor pode e deve fazer tudo o que quiser, desde que não se arme em fariseu e não esteja nunca contra os simples, de braço dado com os trafulhas, nem contra os fracos, de barco dado com os poderosos.” (Aquilino Ribeiro)
“Olhem sempre em frente, olhem o Sol, não tenham medo de errar, sendo originais, iconoclastas e anti, o mais anti que puderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do Restelo. Cultivem a inquietação como fonte de renovamento." (Aquilino Ribeiro)
2 comentários:
Gostei muito do que escreveste. Dessa força com que escreves. Com paixão pelo que gostas. Eu que nasci onde também "os lobos uivam".:)
Lembro-me quando andava na 4ª classe e tentava ler o "Romance da Raposa" com a ajuda permanente do dicionário. A dificuldade que senti, tão cedo, em ler Aquilino, afastou-me da sua obra, apesar de estar toda à minha disposição em casa dos meus pais e, mais tarde, só voltei a encontrar-me com o autor no " Malhadinhas"...
tenho muito por ler :)
Enviar um comentário