António de Oliveira Salazar foi o mais votado por todos aqueles que participaram no concurso, organizado pela RTP, denominado “Os Grandes Portugueses”. Eu também participei e votei no D. João II, que considero o melhor estadista português de todos os tempos.
Essa vitória deve merecer uma reflexão, já que é estranho que no ano de 2007, um País democrático como o nosso, integrado na União Europeia, dá tanta relevância a alguém que foi efectivamente um ditador, que durante décadas governou Portugal, com mão de ferro, tenazes da polícia política e a ajuda de muitos e muitos bufos.
Não acredito que a maioria das pessoas que votou em Salazar, sejam todas “salazaristas” (algumas serão, admito), ou sequer tenham memória e conhecimento do que foi o Estado Novo.
Este voto tem que ser entendido como um repúdio. Não como um repúdio da Democracia em si mesmo, mas sim um repúdio da configuração que a mesma tem vindo a assumir.
Considero que Portugal vive a última oportunidade para se revelar um Estado Nação viável nos novos contextos geo-políticos, económicos, sociais e científico-tecnolológicos deste século XXI, cujos paradigmas caracterizadores são, evidentemente, diferentes dos anteriores.
O que está em causa, pelo menos no meu entendimento, é a necessidade de se encontrar uma fórmula eficaz de melhoramento do próprio regime, em que os partidos políticos abandonem o seu papel hegemónico enquanto instrumentos únicos para o um exercício pleno da cidadania e percebam que ou criam espaço para novas e eficazes possibilidades de intervenção cívica ou o regime, mais dia menos dia, ruirá. Por outro lado é vital que aos poderes legitimados constitucionalmente, o legislativo, o executivo e o judicial, não se sobreponham outros que acabam por os contaminar, pervertendo toda a lógica do funcionamento das instituições.
Quanto ao debate partidário, o mesmo devia assentar nas propostas de solução dos verdadeiros problemas do País, que são provocados, todos eles sem excepção, por um antigo mal português: uma tentação inata para o desperdícios dos recursos disponíveis, a começar pelos recursos humanos.
O desperdício dos recursos humanos acontece quando não colocamos a questão da formação – formação integral a todos os níveis – como uma verdadeira prioridade nacional. A questão da produtividade é uma questão de formação integral para a cidadania. Um cidadão só o é em pleno quando usufrui de iguais oportunidades de valorização e de responsabilização.
A “Cultura” não pode andar arredada da “Educação”, e esta não pode continuar dissociada da Formação Integral. Os deficits económicos e financeiros do amanhã, combatem-se e atenuam-se pelo investimento sério, hoje, na Formação. Bons empresários, bons quadros, bons operários, enfim bons profissionais, não nascem por obra e graça do Espírito Santo, é preciso formá-los.
O nosso grau de dependência internacional, a pobreza dos nossos recursos naturais e humanos é tamanha que, na verdade, faz de nós um país de pacotilha.
De pacotilha e de ignorantes. A ignorância é hoje o único paradigma vigente. O povo e as suas elites são, regra geral ignorantes, ou seja os governados são ignorantes, os governantes são ignorantes.
O sistema de ensino é povoado de ignorantes irresponsáveis que produzem, à escala industrial, toneladas e toneladas de novos ignorantes. A licenciatura mais honestamente comum em Portugal é a Licenciatura em Ignorância, ministrada em todos os estabelecimentos de ensino superior do País. As universidades, apesar de proporcionarem uma formação com alguma qualidade, do ponto de vista meramente técnico e até científico, do ponto de vista humanista – ou seja daquilo que é fundamental para a formação integral do Homem – é absolutamente incapaz. Temos hoje professores que nunca leram, sequer, 10 livros em toda a sua vida, temos hoje médicos, advogados, engenheiros, arquitectos, deputados, ministros, jornalistas, etc, etc, que nunca leram 10 livros na vida.
Mas será que ler livros, sobretudos bons livros é importante, e que a ausência da sua leitura tem efeitos assim tão dramáticos? Claro que sim. Claro que tem.
A justiça fiscal não é uma questão de escalões mas sim de eficácia no sistema de cobrança de impostos e de uma política fiscal diferenciada que combata as assimetrias regionais.
A pobreza deve ser encarada como intolerável, e se para a combater for necessário o subsídio que se subsidie e que se a extermine.
Por mais do que os “Senhores” Liberais e os “Senhores Vodka Caviar” esperneiem, há um facto indesmentível: o País é pobre, o País tem cada vez mais pobres!
O “mercado”, deixado à solta, num País como o nosso é autofágico. E que “mercado” temos? Um mercado em que pululam patrões e escasseiam empresários! Um “mercado” caracterizado pelos Ferraris e pelas falências fraudulentas! É preciso que se saiba, é preciso que se lembre, que a maior parte dos “patrões” portugueses só singraram à custa de guarda-chuvas, fossem eles o proteccionismo corporativo ou o maná dos subsídios da Europa.
Claro que há excepções, mas são isso mesmo: excepções!
O prejuízo de certas empresas públicas não deriva directamente do facto de serem públicas, mas sim por serem administradas por incompetentes, e casos há que as mesmas têm mesmo que dar prejuízo, aquelas que o tal “mercado” recusa absorver, que pela natureza dos serviços que prestam ou dos bens que produzem, não são lucrativas em parte nenhuma do mundo.
A mim aborrece-me que a TAP tenha dado tanto prejuízo, mas o que me irrita verdadeiramente é comer manteiga francesa dentro dos seus aviões. Haja decência e juízo. Temos campos, temos vacas e temos agricultores. Comemos manteiga francesa dentro dos nossos aviões, porque o tal “mercado” assim o dita.
A “Nação valente e imortal” precisa de auto-pontapear nos seus avoengos fundilhos. Precisa, como se costuma dizer, ganhar juízo.
A “Nação valente e imortal” tem que olhar para dentro de si mesma e ver. Ver o que é, e não cair na tentação de ver o que quer ver.
2 comentários:
:( pois...
bju
e já agora...
eu não votei!
E concordo ctg plenamente!
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