Naquela larga língua de areia,
ladeada por milho verde e mar de verdade,
guardada pelo velho forte,
bem mais novo que o céu azul que a cobre,
olhando num perto que parece longe,
o monte de amor, dor e morte,
em que se vislumbra um farol, que em bicos de pés,
espreita por cima das árvores para lá do horizonte,
num acertado, inequívoco e claro testemunho
de que o querer ver se conjuga com sofrer,
nessa praia que é de todos,
sinto um espaço meu de quase toda a minha vida,
e que bom seria que um dia,
no contra-ponto do primeiro
fosse de toda ela por inteiro.
Há locais que apesar de públicos ganham foros de propriedade na memória mais profunda das almas.
São aqueles sítios em que por uma qualquer razão nos enchemos de alegria e de tristeza por uma outra qualquer.
São espaços-âncora da nossa intima humanidade. Espaços que sem o saberem contribuíram para a solidez dos nossos alicerces, as escoras mais sólidas da casa que somos.
Nas areias referidas em epígrafe, “malatando-me”, eu fui verdadeiramente feliz, embora mal o soubesse nas respectivas ocasiões.
É curiosa a relação entre o espaço, o tempo e o sentir... e nem todos somos Einstein.